Racismo, capitalismo e subjetividade
Leituras psicanalíticas e filosóficas
de Marília Etienne Arreguy, Marcelo Bafica Coelho, Sandra Cabral
Ed. Eduff
“Para que as coisas permaneçam iguais, é preciso que tudo mude”, talvez essa seja a melhor síntese das estratégias do poder em sua versão capitalista, entre elas a do racismo. Mas a frase de Tancredi, aristocrata decadente do romance O Leopardo, de T. di Lampedusa, vale também como um diagnóstico e uma denúncia do seu funcionamento completo, a saber, que o poder é inseparável de discursos que o ocultem como tal. Assim, a construção do conceito de raça pelo discurso científico foi essencial para a legitimação da escravidão no período colonial de exploração capitalista. Desde então – dos plantations ao Holocausto –, não há propriamente uma ruptura sob este ponto de vista: a ciência tem regularmente fornecido os argumentos “objetivos” que justifiquem a supressão da humanidade no outro. Mas, em que pese o caráter monstruoso de tais crimes em massa, o reconhecimento das formas de naturalização da diferença está apenas em seu começo, dado que elas participam da própria constituição dos sujeitos pela língua e pela cultura. Este livro é um convite ao reconhecimento dos modos como racismo e seus efeitos se reproduzem e se presentificam na cena social brasileira. A partir de uma atenta leitura psicanalítica, o racismo à brasileira é localizado em seus modos de subjetivação e suas práticas discursivas locais, das políticas de segurança pública à educação, da propriedade da terra à família, retirando-o assim de seus tradicionais silêncios e meias-palavras. Sem dúvida, um livro incontornável num momento em que a sociedade brasileira busca fazer seu balanço e construir uma experiência de cidadania verdadeiramente justa entre seus membros.
Nelson da Silva Junior
Psicanalista, Professor do Instituto de Psicologia da USP.
“[…] É claro que, neste contexto histórico e social, o Brasil tem suas especificidades, na medida em que aqui se evidencia a presença de signos ostensivos de genocídio da população afro-descendente em consequência da não superação da longa tradição escravocrata, que prevalece, até hoje com as péssimas condições de saúde e de educação, mas que se fazem também presentes nas populações indígenas. O que implica em dizer que existe uma urgência brasileira face aos impasses colocados para os destinos de tais populações tratadas de forma indigna e que se materializa por laços sociais perversos. Portanto, no Brasil contemporâneo, tais tradições vivem efetivamente como refugiadas, como se fossem estrangeiros, devendo então serem plenamente reconhecidas para se inscreverem no registro da cidadania, para que o racismo possa ser assim objeto de desconstrução (Derrida). Enfim, esta é a aposta dos autores desta obra magnífica nos seus treze (13) textos, que realizam uma cartografia instigante para que se possa pensar no racismo como questão crucial da atualidade.”
Joel Birman
Professor titular do Instituto de Psicologia da UFRJ, professor adjunto do Instituto de Medicina Social da UERJ, diretor de Estudos em Letras e Ciências Humanas, Université Paris Diderot e professor associado da École Doctorale de Psychanalyse da Université Paris Diderot.
Marcelo Bafica Coelho é professor de Filosofia da Educação e de Epistemologia das Ciências da Educação na Universidade Federal Fluminense; é pesquisador associado ao GAP(E) – Grupo Alteridade Psicanálise e Educação; ao NEPES – Núcleo de Estudos e Pesquisas em Educação Superior e ao FORMAR – Grupo de Pesquisa em Didática, Formação de Professores e Práticas Pedagógicas.
Marília Etienne Arreguy é professora doPrograma de Mestrado e Doutorado Stricto Sensu em Educação na Universidade Federal Fluminense. Professora convidada na École Doctorale de Psychanalyse da Université Paris Diderot; atua nas áreas de Psicanálise, Educação e Filosofia Política.
Sandra Cabral é doutora em Saúde Coletiva (Fiocruz), com pós-doutorado em Psicologia Clínica (PUC-SP); professora e pesquisadorada Universidade Federal Fluminense, coordena, no Brasil, o Observatório Internacional Rede Resiliência (REDRES), associado a Université Toulon-Var (FR).